domingo, 28 de outubro de 2007

Liberdade de expressão. Fato ou ficção?

Em permutas pela vida, penso como seria um mundo onde não pudéssemos expressar tudo o que sentimos. Deve ser relevante, frustrante e completamente nervoso.

Bem, eu não peguei a época da ditadura militar onde todos eram obrigados a ficarem calados e não podia sequer expressar qualquer tipo de forma de arte ou sentimento, fosse ele qual fosse. Lendo e relendo matérias para faculdade me deparei com duas entrevistas da revista ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), onde dois mestres respondem de modo ímpar sobre o tema liberdade de expressão, cada um a seu modo de pensamento, e que pensamentos, na edição de setembro/outubro de 2005 da revista foi perguntado para Artur da Tavola e João Ubaldo Ribeiro o que eles achavam sobre o fato de alguns terem mais liberdade de expressão que o outro. Artur citou um acontecimento com Samuel Wainer do jornal Última hora, onde ele disse não ter liberdade nenhum no jornal dele, e Artur falou que ele poderia não ter nenhuma liberdade, mas tinha toda independência, correlacionando isso ao foto de que ele não tinha liberdade para escrever por conta que não poderia falar nada contra o dono ou o próprio jornal, mas tinha total independência de escrever o que sentia e pensava desde que isso não afetasse a imagem do jornal, então ele podia não ter a liberdade, mas tinha total independência. Já João Ubaldo mandou uma que só o meu mestre poderia ter relacionado esses fatos, citou que o repórter falou de um assunto de total complexidade relacionando expressão à impressão. Isso mesmo, ele falou que se abstraímos, radicalmente, outros elementos, a expressão é a transmissão de uma impressão - palavras de João - e já que em nosso país a capacidade de receber impressão é quase nula pela falta de educação, não há condições de termos uma impressão, quanto mais uma expressão.

Esses dois modos totalmente contrários um do outro se fundem num único pensamento, é que na verdade não temos verdadeiramente nenhuma liberdade, o que temos é a falsa sensação de liberdade que nos é dada conforme a música toca. É o famoso ditado em que se diz que temos que dançar conforme a música, isso mesmo. Podemos hoje em dia termos capacidade e meios de transmitir o que pensamos e desejamos de várias formas e modo, afinal nossa tecnologia avança a cada dia, mas a verdadeira liberdade, não temos, pois sempre existirão os tabus por detrás da sociedade, na maioria das vezes hipócrita, e assim não conseguimos realmente nos expressar, porque assim não conseguimos com liberdade formar nossas impressões, na verdade estamos no meio do comentários dos dois, não conseguimos ter liberdade por falta de impressão e por conseqüência temos a independência de pensarmos o que queremos, mesmo que nunca possamos expressas nossos pensamentos, eles são nossos, mesmo que só sirvam para ficar para ficar guardado em velhos diários de papel como no tempo da vovó (muito remotamente em minha própria infância).

Bem curtindo a falta de liberdade e a minha independência vou falando o que penso antes que me censurem. (risos).

Por Ana Magal

terça-feira, 2 de outubro de 2007

TAG, afinal o que será isso?

Olá, estreiando no Universidade Democrática. Esse texto foi escrito e publicado por mim em uma pesquisa de um grupo de amigos anônimos com síndrome do pânico aqui no RJ. Algum tempo depois disponibilizei-o em meu blog pessoal. Hoje trago ele aqui no Universidade para que todos conhecem um pouco sobre a Sindrôme do Pânico e da Ansiedade.

Ana Magalhães

TAG, afinal o que será isso?

É esse assunto sempre causa polêmica e muita curiosidade. Não é uma linguagem de programação (apesar de ter uma com nome parecido). TAG é uma doença, por sinal muito grave, e muito pouco conhecida.

Eu sou uma pessoa portadora do TAG (Transtorno da Ansiedade Generalizada), esse transtorno pode ter do caso mais simples ao mais extremo (a Síndrome), isso é quando ela engloba vários outros transtornos.

Um dos mais comuns e conhecidos é o transtorno do pânico. Outras sintomas conhecidos são: depressão, tendências suicidas, autopiedade, difícil relacionamento pessoal, seja ele fraterno, familiar ou emocionalmente romântico e/ou sexual. Além de outros fatores que geram esse transtorno.

Os fatos que demonstram isso são as compulsões (ou obsessões), que podem ser de troca ou em casos mais graves (como o meu foi no pico da crise há cinco anos atrás) a cumulativa. Compulsões de diversos modos, por gula, por fumo, por sexo, por perseguições, etc. Passei por tratamento e orientações psiquiátrica e psicológica durante dois anos, e nesse período os vários médicos que me atenderam me informaram que isso não tem cura, mas existe tratamento e assim a TAG poderia ser controlada me deixando viver normalmente. Muitos confundem esse transtorno como um "simples" transtorno do pânico ou em alguns casos como bipolaridade, mas o TAG engloba um pouco de todos esses transtornos, te levando ao máximo do exagero. Nada mais é do que um sentimento exagerado de ansiedade, ou seja, você sofrer por qualquer coisa, até a mais simples, por meses, ou anos, antes delas aconteceram e sempre achar que não será capaz de resolvê-las e com isso se sempre inferior a todos.

Hoje existem vários tratamentos, pagos e gratuitos, dessas enfermidades, mas vale lembrar que assim como o alcoolismo, você, depois de detectado o problema, irá viver a vida um dia de cada vez. Todo dia é um dia de luta, um dia de lutar contra seus próprios fantasmas. Não tenho crises profundas há alguns anos, mas às vezes tenho pequenos surtos de depressão, de raiva exagerada, de falta de confiança no outro, mas as tendências suicidas e meu transtorno do pânico acabaram.

Existem alguns sites que falam sobre essa Síndrome. Alguns dele citam somente o nome "Transtorno", porque são raros os casos em que se transformam em Síndrome. Devemos lembrar que um transtorno é um fato ocorrido separadamente e a síndrome já são vários transtornos ocorrendo ao mesmo tempo, então nada mais é do que um ponto mais crítico de uma doença, pois engloba não somente um ou dois dos sintomas e sim muitos deles e alguns casos todos os sintomas de uma só vez, e alguns novos a cada dia.

Algumas mulheres, principalmente, tem pequenos sintomas desse transtorno durante crises de TPM. Por isso, é classificado principalmente como um transtorno ocorrido mais facilmente em pessoas do sexo feminino, mas também podendo ocorrer com homens e crianças. Podem ocorrer após uma situação traumática ou simplesmente, como foi no meu caso, ser um processo cumulativo de vários acontecimentos até o dia em que a pessoa não suporta mais perdendo o total controle de suas emoções.

Segue alguns sites que falam sobre esse assunto, no qual, eu utilizei na época de minha crise, e sempre que posso releio para saber de novos tratamentos e também para conversar com pessoas que passaram pelo mesmo que eu.

Sites sobre TAG:
Fora os sites, existem muitos livros sobre o assunto em bibliotecas públicas, só pedirem o tema TAG. A melhor forma de tratamento para qualquer tipo de doença é a informação sobre a mesma, só assim podemos saber do que se trata e assim combatê-la.

Lembrem-se!

Os principais sintomas do TAG são:

-Tensão motora: tremor, abalos, sensação de balanço, tensão muscular, dores, edemas musculares, cefaléia tensional, inquietação, fadiga fácil.

-Hiperatividade autonômica: sensações de asfixia, palpitações, sudorese excessiva, mãos frias e úmidas, boca seca, vertigem, náuseas, diarréia, desconforto abdominal, ondas de calor ou calafrios, micção freqüente, dificuldade em deglutir ou "nó na garganta", taquicardia.

-Vigilância cognitiva: sensação de incapacidade, impaciência, sobressaltos, dificuldade de concentração, brancos de memória, insônia e irritabilidade. As pessoas que sofrem com este problema estão freqüentemente temerosas com o futuro, aguardam pelo pior a todo o momento. Além de preocuparem-se irrealisticamente com os outros, preocupam-se muito consigo mesmo.

É basicamente um transtorno mental, mas tem uma carga significativa de fatores biológicos e psicosociais que operam em conjunto. No Orkut já existem mais de 50 comunidades que falam sobre o assunto "ANSIEDADE”, cada uma com cerca de 54 mil participantes, isso demonstra que é uma patologia séria, mas que muitos não a levam a sério, inclusive alguns médicos a diagnosticam erroneamente como uma breve "síndrome do pânico”, ou mero "stress". Devemos lembrar que o TAG é um distúrbio crônico e que tem períodos de melhoras e pioras em seus sintomas. As pessoas portadoras do TAG tendem a ser pessoas ser excessivamente perfeccionistas e inseguras, apresentando uma tendência a refazer tarefas em razão do medo de serem desaprovados.

Eu sigo os princípios de um grande psiquiatra, que minha médica me passou. Esses passos me ajudam diariamente até hoje.

São dicas do psiquiatra,Dr. Isaac Efrain:

1- Respire Fundo, lenta e compassadamente, pelo maior tempo que for capaz. Isto ajuda a desacelerar fisiologicamente o cérebro e, por conseqüência, a mente.

2- Entenda que quando um problema novo se configura a sua frente, a solução não está em sua mente ou em seu pensamento, e sim no fato em si. Quando for possível, olhe para a dificuldade, procure entendê-la, aumente suas informações e seu conhecimento sobre ela. Não busque referências anteriores, para não aumentar a ansiedade. Se não for possível encará-la, tente não pensar nela? Distraia a mente com outra coisa e até “brigue" com sua cabeça se for preciso.

3- Aceite a falta de controle. Abra mão da prepotência de seu cérebro e entenda que não somos superpoderosos que tudo possuímos o poder para controlar. Uma parte de nossa vida tem que ser entregue ao destino, à sorte e... Venha o que vier.

4- Problemas inesperados e novidades se resolvem com ações e não com pensamentos e possibilidades. É preciso fazer o melhor que está ao nosso alcance? E que seja focado e baseado no real. O que está além de nosso melhor esforço não se pode dominar.

5- É possível conviver com a insegurança quando ela surgir à sua frente. Não queira se livrar dela, não tenha pressa. Isso porque quanto mais você aceitar este fato, mais tranqüilamente ela irá embora e mais a sua mente se acalmará. Do contrário, quanto mais tentar se livrar dela, mais ela se transformará em crescente ansiedade.

6- Não se deixe enganar pela mente. Quando ela ficar "buzinando" internamente que o pior vai acontecer, use a expressão mágica: “seja o que Deus quiser...”.

"Mente acelerada é mente desequilibrada. Para livrar-se da ansiedade, é preciso aprender a escapar de seu domínio" - Isaac Efrain, Psiquiatra.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Aulas de software livre auxiliam a inclusão digital

Abaixo, segue a minha matéria publicada no dia 28 de setembro no portal do Ibase, onde faço estágio. Adorei ter feito essa matéria, tive um carisma especial por ela. Na matéria original (sem edição) eu faço uma crítica a Microsoft, empresa que domina o mercado mundial de softwares. Foi como um desabafo por anos sendo dominado por esse monopólio. Eu já uso no meu PC em casa os mesmos programas usados no meu trabalho, só não utilizo o Linux por causa da incompatibilidade com certos programas, infelizmente. Confira a matéria abaixo:

Carlos Daniel da Costa


A Microsoft, empresa líder global na produção de softwares e aplicativos, ainda domina o mercado mundial, mas passos importantes para concorrer com esse domínio já foram dados. Já existem softwares e aplicativos cujas licenças não são pagas. São os chamados softwares livres ou programas de código aberto. Com o intuito de fortalecer o uso desses programas, o Ibase inaugura, no mês de outubro, uma sala de informática para cursos de capacitação.

O local conta com 10 microcomputadores equipados com softwares livres. A princípio, as aulas serão voltadas para treinamento interno de funcionários(as). Os treinamentos abertos ao público serão direcionados para comunidades, amigos(as) do Ibase, parceiros etc.

Está sendo criado um manual básico sobre o OpenOffice, programa de código aberto alternativo ao pacote Office da Microsoft, que será utilizado durante as aulas. “Na verdade, existem vários manuais e vamos adaptá-los a nossa realidade. Vamos recriá-los com a cara do Ibase”, explica o membro da equipe de Tecnologia da Informação e um dos responsáveis pela organização da sala, Cássio Martorelli..

As pessoas interessadas em se inscrever devem enviar e-mail para softwarelivre@ibase.br. Critérios como conhecimento e habilidade com ferramentas da informática serão levados em conta na hora da montagem das turmas. “Para evitar turmas desniveladas, vamos estabelecer critérios para adequar os treinamentos”, completa Cássio.

Difusão livre

Segundo o coordenador de Indicadores e Gestão da Informação do Ibase, Leonardo Méllo, o projeto Democratizando a Informação Através dos Sistemas de Código Aberto tem por objetivo socializar a experiência com ferramentas de software livre. Assim, dá a oportunidade de outras instituições trabalharem com ferramentas tão boas quanto as pagas e perceberem que há alternativas gratuitas para aumentarem sua produtividade com segurança.

Projetos como esse são importantes para diminuir o preconceito contra programas abertos e gratuitos. “As ferramentas de software livre são mais seguras que as ferramentas da Microsoft”, afirma Leonardo. E Cássio reforça: “O Linux é o software de rede mais usado para distribuição. Já as máquinas locais usam mais o Windows. Então, o Linux é bom como um servidor, por conta de segurança. E os programas abertos, assim como os programas de servidor, não são bons para a sua máquina de uso pessoal? Na verdade, o que há é uma campanha maciça da Microsoft para vender seus programas e aplicativos. Na hora em que nós, do Ibase, investimos em software livre, damos o recado e o exemplo. Mostramos que software livre funciona!”, complementa.

Quem apóia o Ibase nessa jornada é a Fundação Ford, que ajudou e continua ajudando financeiramente na obtenção e manutenção dos equipamentos e ferramentas. Além da fundação, quem também apóia o Ibase é a Comunidade de Software Livre. Seus integrantes trabalham na criação e aperfeiçoamento desses programas. “Há todo o esforço de pessoas completamente desconhecidas e outras conhecidas que vêm investindo em software livre. E isso nos permitiu substituir as soluções pagas que tínhamos no instituto”, diz Leonardo.

Mesmo antes da inauguração, a procura pelas aulas já começou. “Acho isso muito bom. Até pouco tempo, não existia ninguém que falava de pacote de aplicativos para usar em casa. Os pacotes Microsoft são muito bons. O BrOffice.org também. E os dois têm tantas capacidades que eu diria, sem sombra de dúvida, que a maioria dos usuários não usa a metade dessas possibilidades. Se as pessoas não usam tão intensamente assim, por que temos que pagar? Por que, em vez de usar um pago, não usar o gratuito?”, indaga o coordenador.

Entre as ferramentas que serão ensinadas durante os cursos estão o Linux (programa operacional que substitui o Windows), o BrOffice.org (pacote de aplicativos que substitui o tradicional Microsoft Office) e outras ferramentas importantes para edição de imagens e funcionamento do computador.

Para inscrições, dúvidas e mais informações:
softwarelivre@ibase.br

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Uma pauta interessante

Saudações!

Pessoas, estou muito satisfeito com a pauta que me foi passada essa semana. Vou fazer uma matéria sobre a inauguração da sala de informática no Ibase. mas não para por aí, o Ibase vai disponíbilizar pequenas turmas para aulas de softwares livres. Uma iniciativa muito importante, pois vai possibilitar que empresas e usuarios caseiros utilizem programas de código aberto compatíveis com os que precisam de licença para uso(principalmente os da microsoft). Ou seja, quanto mas pessoas usarem esses programas, menor será o índice de pessoas que utlizam versões não licenciadas (piratas).

Tenho certeza que essa iniciativa causará uma revolução, pois muitas empresas e instituições serão beneficiadas. Além, é claro, de curiosos que queiram aprender sobre como funciona o código aberto. Podendo, inclusive, criar novas versões dos mesmos programas de maneira mais aperfeiçada.

Isso se chama DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO!!!!!!!!!!!!!!

Quando a matéria estiver pronta, eu garanto que publico!

Abraços!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Falta de políticas ou falta d'água?

Um grupo de pesquisadores(as), advogados(as) e representantes da sociedade civil percorre 11 capitais brasileiras para expor argumentações que se contrapõem ao projeto do governo federal de transposição do Rio São Francisco, conhecido como velho Chico. A caravana, que ocorrerá até 1º de setembro, esteve no Rio de Janeiro em 21 de agosto.

O principal alerta da “Caravana em defesa do São Francisco e do semi-árido contra a transposição“ é que o projeto não tem como foco matar a sede de quem sofre com a seca. Segundo os(as) especialistas, alternativas políticas mais eficazes são viáveis e seriam mais baratas, além de proporcionarem o desenvolvimento social da população.

A postura do governo, que insiste em uma obra que envolve impactos ambientais, econômicos, políticos e sociais, é repudiada pelo grupo. O governo federal afirma que 12 milhões de brasileiros(as) serão beneficiados(as) em todo o semi-árido setentrional com o desvio das águas do São Francisco para rios situados nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco.

Reagir à proposta que, à primeira vista, “resolveria” o problema da seca no semi-árido nordestino acaba sendo desconfortável. Porém, não faltam argumentos contrários à obra “faraônica”, cujos gastos podem chegar a R$ 20 bilhões dos cofres públicos, segundo membro da Caravana. Muito mais do que os R$ 4,5 bilhões anunciados.

Há soluções mais baratas e bem menos monumentais do que a transposição. Entre elas estão a construção de açudes, cisternas, poços artesianos e barragens subterrâneas. A Articulação do Semi-árido (ASA) tem desenvolvido importante trabalho no desenvolvimento de alternativas. “Já foram construídas 200 mil cisternas, com a participação das próprias comunidades, apoiadas pelo governo do estado. Esse trabalho vem impulsionando outros processos de inovação”, comemora o coordenador executivo da ASA, Luciano Silveira.

O que se pretende é repudiar a aplicação de recursos financeiros exorbitantes em uma iniciativa que se aproveita da calamidade vivida por pessoas sem que apresente soluções efetivas para as mesmas. É importante ressaltar que os recursos não acabarão ao término das obras, pelo contrário, serão necessários investimentos para o funcionamento e a manutenção do projeto.

O Brasil tem exemplos, como a rodovia Transamazônica. A construção permanece inacabada há 36 anos e consumiu cerca de US$ 1,5 bilhão. A estrada que ligaria a região norte à região nordeste foi idealizada pelo então presidente da República, o general Emílio Garrastazu, com o intuito de levar “os homens sem terra do Brasil a ocuparem as terras sem homens da Amazônia”.

Falácia da falta d’água

Além de um desperdício financeiro, há a desvalorização das condições do semi-árido brasileiro no que diz respeito à possibilidade de sua auto-sustentabilidade. Os(as) especialistas afirmam que não há falta de água na região e que a pobreza no semi-árido é por falta de políticas públicas e pela deficiência da gestão da água existente.

Segundo João Suassuna, engenheiro agrônomo e técnico em recursos hídricos da Fundação Joaquim Nabuco, o Nordeste conta com 70 mil represas, 37 bilhões de m³ de água. Este é o maior volume represado em regiões semi-áridas do mundo, superando a Baía de Guanabara, terceira maior do mundo com 3 bilhões de m³ de água. “O maior potencial de água represada está no Nordeste. O que não há é política para que a água chegue à população”. Devido à má gestão política de uso e distribuição dessas águas, apenas nove dos 37 bilhões de m³ estão sendo utilizados.

Tanto que há famílias vivendo à beira do São Francisco em condições de miséria. “Existem fortes indícios de que a realização do projeto pode perpetuar a chamada indústria da seca na região”, frisa João Suassuna.

Nordeste partido

Outro ponto importante que Suassuna põe em pauta é o caso da divisão que assolou o Nordeste logo após o anúncio das obras de transposição. “O São Francisco é o rio da integração nacional. E como tal, todo o projeto que se vislumbra ser executado tem que cumprir necessariamente esta lógica de união”.

Segundo ele, “o projeto de transposição visa o abastecimento de 12 milhões de pessoas no Nordeste setentrional. Significa dizer que pessoas serão beneficiadas nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Os estados abaixo de Pernambuco, no Nordeste meridional, vão ter que exportar as águas do São Francisco. Efetivamente não terão participação alguma no projeto. Isso dividiu o Nordeste. Os estados de Pernambuco para cima são favoráveis ao projeto porque. Os estados abaixo de Pernambuco são doadores de água, portanto não terão participação alguma no projeto”, conclui.

Por que não há diálogo?

A Caravana critica a fragilidade da avaliação dos impactos e a não-abertura de espaços para o diálogo por falta do governo. É importante ouvir quem vive a realidade regional. “A gente precisa contar a nossa verdade, porque a mentira foi contada repetidas vezes e virou verdade. Se a nossa verdade não for contada, ela vira mentira”, defende o indígena Marcos Sabaru, representante dos Tingui-Botó, de Alagoas.

E relata que “a comunidade indígena vem sendo atingida há muito tempo com a falta de peixes e por não poder mais navegar pelo São Francisco. Somos um povo que habita o rio há milhares de anos, mas que não tem participação na discussão de um projeto que foi criado nos gabinetes. Nosso povo não teve participação na discussão de uma questão que está sendo colocada como solução para problemas que o afetam”.

O grupo também ressalta a inércia da mídia com relação à discussão sobre a transposição. O presidente da ABI, Maurício Azêdo, criticou: “Essa questão estaria hoje no primeiro plano das discussões nacionais, mas isso não se dá porque o que interessa aos grandes meios de comunicação é a perfumaria, é o secundário. Está interessada no que gera escândalo, o que pode gerar toda essa falsificação de todos os lados. Como exemplo podemos citar o caso do senador Renan Calheiros”.

E conclui afirmando que “há meses assistimos a um desperdício de espaço e de tempo que teria muito mais proveito social se fosse utilizado para a divulgação de problemas graves e dramáticos do país”.

Ainda no âmbito da comunicação social, foi chamada a atenção para o apelo visual do governo, por meio de imagens com crianças raquíticas, animais definhando, solo estorricado e açudes secos, forma de convencer a população de que o projeto é a salvação de quem vive em regiões com longos períodos de seca. Com grandes recursos para financiar propagandas, discursos de críticos ao projeto estão sendo distorcidos.

“O povo fica iludido achando que vai ter água, achando que o São Francisco vai entrar na casa de todo mundo. É um delírio. É igual prometer supermercado para quem está com fome”, compara o coordenador do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa.

Publicado em 24/8/2007.

Assinam a reportagem os estagiários do Ibase Carlos Daniel da Costa e david Amen